Fernando Pessoa

Fernando Pessoa
Fenando Pessoa em 1914

Analise do Poema de Fernando Pessoa

Análise do Poema de Fernando Pessoa

"Porque esqueci quem fui quando criança?"

Porque esqueci quem fui quando criança?
Porque deslembra quem então era eu?
Porque não há nenhuma semelhança
Entre quem sou e fui?
A criança que fui vive ou morreu?
Sou outro? Veio um outro em mim viver?
A vida, que em mim flui, em que é que flui?
Houve em mim várias almas sucessivas
Ou sou um só inconsciente ser?

Analise:

Trata-se de um dos temas fundamentais da obra de Fernando Pessoa ortónimo, mas que também é partilhado pelo seu heterónimo Álvaro de Campos.

Para Fernando Pessoa, a sua infância é o passado irremediavelmente perdido, o tempo longínquo em que era feliz sem saber que o era, o tempo em que ainda não tinha iniciado a procura de si mesmo, e por isso, ainda não se tinha fragmentado. Em muitos poemas, o poeta exprime a memória dessa infância provocada por um qualquer estímulo – “velha música”, um simples som (“Quando as crianças brincavam / E eu as oiço brincar), uma imagem ou uma palavra – para concluir amargamente que o rosto presente, não há coincidência entre o “eu – outrora” e o “eu – agora”

Em Fernando Pessoa, a passagem da infância a idade adulta não é um processo de ruptura, de corte, de morte: “A criança que fui vive ou morreu?”; “Porque não há semelhança / Entre quem sou e fui?”. Todo o poema “Porque esqueci quem fui quando criança?” exprime essa admiração perturbante de se sentir habitado por outro, diferente da criança que foi “sou outro?”.

Desta forma, o passado e o presente opõem-se na poesia de Fernando Pessoa, não se complementam. O passado é infância, alegria, felicidade “inconsciente”; o presente é nostalgia, inquietação, desconhecimento de si mesmo e do futuro: “se quem fui é enigma, / E quem serei visão, / Quem sou ao menos sinta / Isto no meu coração”.